E os últimos serão primeiros (Mateus 20:16) (Португальською мовою)
O mundo virou de cabeça para baixo. Como a agulha de bússola magnética no polo, o mundo girou 180 graus. Aqueles quem consideramos fortes acabaram sendo fracos. Praticamente todo o Conselho de Segurança da ONU, que deve decidir o destino do mundo, mostrou-se despreparado para esta missão. E a cidade ucraniano de Mariupol pode servir de evidência clara das garantias de segurança dos líderes deste mundo. O mesmo é extensível às cidadas de Kharkiv, Sumy, Irpin, Bucha, Gostomel.
As cidades, é claro, podem ser reconstruídas. Mesmo que levasse muitos recursos e tempo. Mas pode ser feito e será feito. Porém, será possível restaurar a confiança? E o que fazer com os princípios, direitos e liberdades que o Estado terrorista, que também é membro do Conselho de Segurança da ONU, jogou no lixo de forma demonstrativa? Começando do básico – o direito à vida. Que a Federação Russa decidiu selecionar a seu critério, usando artilharia pesada, mísseis de cruzeiro, fósforo e bombas de fragmentação. E simplesmente – explosão de tiros de metralhadora contra os carros com pessoas tentando escapar do bombardeio das aeronaves russas.
Não sou diplomata. Assim, tenho o direito de dizer a verdade. Aqueles que eram os mais fortes também provaram ser fracos. A grande e poderosa China, que sempre apoiou a Rússia de Putin com seus votos – "retenções" no Conselho de Segurança e alguns estranhos acordos com Putin nos bastidores.
Os Estados Unidos também mostraram-se fracos. Mesmo que doa admitir. Sim, somos gratos ao povo americano pelas armas de infantaria fornecidas aos ucranianos. E os EEUU Unidos, junto com a Grã-Bretanha, fizeram a maior parte dentre do resto dos países, muitos dos quais ainda estão assistindo remotamente os selvagens crimes de guerra perpetrados por Moscou no século 21. Isso é verdade e precisamos agradecê-lo em voz alta. Mas o caso do bloqueio da transferência dos antigos aviões de fabricação soviética MiG-29 e sistemas móveis de defesa aérea para a Ucrânia evoca um sorriso irônico. Um sorriso irônico amargo.
A poderosa Aliança da OTAN provou ser fraca. A declaração de seu secretário-geral de que a guerra não deveria ir além da Ucrânia foi chocante. O mundo deveria, na minha opinião, ouvir outra frase do líder político da aliança defensiva mais poderosa do mundo. Que "a guerra na Ucrânia deve ser interrompida". Esse apelo não devia ser feito na direção do governo ucraniano, mas claramente aos olhos do regime de Putin. (https://www.tagesschau.de/inland/stoltenberg-tagesthemen-101.html)
A Ucrânia provou possuir força. Inesperadamente para muitos. Eu entendo porque o mundo está tão surpreso com isso. A Ucrânia era muitas vezes percebida como um professor na escola percebe um aluno da última carteira na classe. Sempre nos falavam do nosso dever de casa inacabado. E nós o andávamos cumprindo com boca fechada. Nosso exército resistiu ao primeiro golpe e atua com competência e eficácia. Os ocupantes russos sentiram isso na sua própria pele. E essa eficiência na tomada de decisões foi desde o primeiro segundo quando os russos bombardearam nossos aeródromos com mísseis. Os aviões ucranianos já estavam no céu. Nosso setor de energia está operando de forma estável, apesar do bombardeio de suas instalações e da apreensão de duas usinas nucleares. Lá onde não são completamente destruídos pelo bombardeio russo, continuam funcionando os sistemas de suporte à vida, abastecimento de água, comunicações, Internet, trabalho de transporte. Os trens de e para a cidade capital de Kyiv, que contém a defesa, andam dentro do horário. A moeda nacional, a hryvnia, também resistiu ao golpe e não enfraqueceu. As equipes de reparo restabelecem as comunicações e sistemas de suprimento destruídos imediatamente após o bombardeio. Tudo isso me infunde o respeito pelo meu povo, os ucranianos. E o apreço pelo dever de casa cumprido em conjunto, ao criar um sistema estável e seguro do nosso estado. Capaz de manter suas posições e até se desenvolver mesmo sob o bombardeio da Rússia de Putin.
E as pessoas eram especialmente resilientes. Putin precisava de uma imagem em que os ucranianos saudam seus tanques com flores. Não deu certo. Eles foram recebidos com garrafas de mistura incendiária – cocteles Molotov. Putin precisava de uma imagem de filas de carros e multidões de refugiados ucranianos na fronteira bielorrussa. Mas mesmo os que deixaram o país estavam se movendo na direção oposta do "mundo russo". Aonde todos esses anos o país estava andando – para a Europa. E isso também é um tapa na cara do ditador russo, que, tanto pela força bruta quanto pela guerra, não conseguiu empurrar os ucranianos para o campo de concentração criado por seu regime.
O mundo, sem dúvida, vai se recuperar. Talvez aqueles que demonstraram fraqueza tirem algumas conclusões. E eles vão deixar entrar coragem e força em seus corações. É assim que deve ser. Porque o sistema de segurança, em que as principais questões são decididas por vários países que entraram em coma psicológico num momento crucial, e entre os quais figura um carniceiro sangrento que não só mata e destrói, mas também põe em causa todos os valores proclamados deste mundo, não existe mais. O mundo mudou demais para viver de acordo com os esquemas caducados. O mundo precisa de um novo sistema em que todas as magníficas declarações sobre a liberdade tenham proteção segura pela força e pela vontade política.
Dmytro Tuzov,
Apresentador da Rádio NV, colunista